Antes que tudo se acabe
E que a Amazônia seque,
Antes que a nação da sombra
O seu lado escuro exiba
E a natureza fique
Abalada pelo homem
Que age ofendendo a terra
Que hoje, aviltando os ares
Emerge a sujar as águas
A poluir os lugares
Dantes chamados de verdes,
Antes que o globo arrebente
E o fogaréu arrebate
As cores, os constelados
Lugares da minha mente...
Antes que a desmemória
Desarrume e desaloje
Os pensamentos, os intentos
Os sentimentos por dentro,
Antes que, de vez, me cale
Antes que o viver se abale
E o Senhor da Vida fale...
Antes que todos se espantem
Que as vozes nada mais cantem
Que os ouvidos não escutem
Que os olhos não percebam
Que a língua já não fale
Que as narinas não arejem
Antes que não mais vicejem
As letras tontas na pauta
Que a palavra arquiteta...
Antes que nosso planeta
Exploda em som obscuro,
Muito antes que este muro
Na violência desabe
Forjando o pó e monturo
No que a gente come e bebe,
Muito antes de tudo isso
Que está previsto e estudado
Do triste descompromisso
Com que se tem atuado...
Se o homem ventos semeia
E a natureza despreza,
Em dobro, o revide anseia
E um mar de força e grandeza
Embebe a insensatez
Humilha com vendavais
Arrasa na muita- vez,
Com furacões ancestrais...
Antes que se rompa o dique
Das geleiras lá do Ártico
E os mares, maiores fiquem
Num desmesurado pórtico,
Antes que se incendeie
A cor de nossa bandeira
E de todas as bandeiras
E que as bocas já não bebam,
Muito antes que se quebrem
Nossos significados,
Palavras anoitecidas
Nossos dias não celebrem,
É necessário inscrever
No relâmpago que fere
O bojo da eternidade,
Onde estendo a mão pequena
Com letra de camponesa
Numa estrofe amanhecida
Erguendo, na letra acesa
O nome próprio da Vida.
Aline de Mello Brandão
Nenhum comentário:
Postar um comentário