Quando meu pai era menino
E o mundo cabia no embornal
Tristeza e felicidade
Eram palavras supérfluas
No fim do fundo de Minas Gerais
Quase ninguém sabia
Que os generais matavam
Tampouco se podia suspeitar
Que quem morria
(eu nem nascido)
Éramos todos
Lá onde o Rio Grande despontava
Um dia, sob os pés de buriti,
Meu pai sentiu saudades
Quis lamber o mato
Encontrar frutas do cerrado
Seriguelas, araçás e muricis
Mas ele já não era menino
E nem havia mais cerrado
Eu, também velho, olhava
O tempo sem fé
O açúcar amargava o dia
E insistia em nos avisar
Que o mundo agora é grande
Grande e triste demais
(Alexandre de Paula)
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