Mentiras e Verdades

Só os poetas mentem de forma alicerçada
Conhecem o impróprio – a nudez da nudez
A tez do lado feminino do sol, a ruptura
A gordura da palavra, o doce do verbo

Menti sobre as serpentes e os escorpiões
Sobre os galhos de novembro – e a primavera apressada
Menti pelas madrugadas afora
Menti diante de um dilúculo azul de um dia grande

Só os poetas falam a verdade de forma orquestrada
Conhecem a maçã – a queixa da Eva
O ardil do leviatã – a sonoridade de uma ave soprano
O léxico da pureza, as saias das Terezas
As certezas das Marias...

Falei a verdade quando despedi a lua em uma noite de abril
Quando dobrei a esquina filosófica do pensamento neutro
Quando derrubei os muros
Quando desfiz as malas...

Falei a verdade quando rasguei meu pacto de silêncio
Mas menti toda vez que eu morri
E eu já morri umas mil vezes ao longo da vida

(Eis aqui as feridas!).


(Radyr Gonçalves)


2 comentários:

Ulisses de Carvalho disse...

E tantas verdades existem nessas palavras sobre mentiras...

Um abraço.

Ulisses de Carvalho disse...

E tantas verdades existem nessas palavras sobre mentiras...

Um abraço.