As ruas

No tempo

em que havia ruas,

ao fim da tarde

minha mãe nos convocava:

era a hora do regresso.


E a rua entrava

connosco em casa.


Tanto o Tempo

morava em nós

que dispensávamos futuro.


Recolhida em meu quarto,

a cidade adormecia

no mesmo embalo da nossa mãe.


À entrada da cama,

eu sacudia a areia dos sonhos

e despertava vidas além.


Entre casa e mundo

nenhuma porta cabia:

que fechadura encerra

os dois lados do infinito?


Mia Couto


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