obrigado por me receber sem me julgar ou desmerecer
obrigado por me poemar só com palavras feitas para o sim
obrigado por aceitar meu sim no coito do meu não
e quando digo não é para aceitar a contradição
a contraluz que raciocina com o meu coração
obrigado pelo que me ensina esses teus dizeres
versos de explosão como convém à carícia
e quando me avisa já perdi o salto
estou do outro lado que você me vê
do lado contrário aí bem ao seu lado
longe de você
e quando disparo todo o arsenal
do bem e do mal você sorri e canta
e tua palavra então me sustenta em ti
só para ouvir tua delicadeza
que ventura mil dizer o que sentiu
essa tua surpresa
chega em poesia do jeito que ferve
quando me escreve é tanta entranha
teu poço me serve o que me reserva
o sabor da seiva escorre da pétala
flor tão generosa em doar-se apenas
dar-se assim tão plena sem pensar ou pena
sem pesar nem tema que te amar é risco
gravado no ritmo do teu coração
e te amar convicto de que não há desperdício
quando o amor é riso e ri tão cruel
uma face afia o tom do mel e a outra fia o dom de fel
amacia a máscara de doer a ternura no calor do grito
rompe com o granito no fio da ventania
e teu encantamento me dispara o tempo e faz para sempre
a infinita dor arder até provocar
o som que tremeu depois de esmagar
a sombra com algemas de medo
e todo o teu segredo é poder sorrir
mesmo quando estou bem longe de ti
assim como um barco
que o cais profana
nada o detém
a não ser a sina insana de te amar
a sede incandescente de sorver teu colo
a lua que devora o grão de teu ódio
o grão debulhado de tua memória
e que o poema traduz como se fosse rima
de amanhecer com abraço
de perdão com silêncio
de barulho de trem como se pudesse
abafar
a longa agonia da viagem
com saudade
(Geraldo Maia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário