Soneto só para mim


Vou assim pelas ruas: meus cabelos
libertos, esvoaçando a quatro ventos.
Não os posso prender e nem quero prendê-los
— que eles são braços de meus pensamentos!

Vou assim pelas ruas da cidade:
— gravata frouxa, alma vagando ao léu…
Tenho a cabeça erguida por vaidade:
esta vaidade de fitar o céu.

E vou sorrindo de meus próprios sofrimentos!
(alma e cabelos esvoaçando aos ventos)
Eu sou o mais feliz dos infelizes!

É que, em toda a minha vida,
sempre fui árvore florida,
que ri do sofrimento das raízes…


Ferreira Gullar


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