Soneto LVII

Mentem os que disseram que eu perdi a lua,
Os que profetizaram meu porvir de areia,
Asseveraram tantas coisas com línguas frias:
Quiseram proibir a flor do universo.

“Já não cantará mais o âmbar insurgente
Da sereia, não tem senão povo.”
E mastigavam seus incessantes papéis
Patrocinando para minha guitarra o esquecimento.

Eu lhes lancei aos olhos as lanças deslumbrantes
De nosso amor cravando teu coração e o meu,
Eu reclamei o jasmim que deixavam tuas pegadas,

Eu me perdi de noite sem luz sob tuas pálpebras
E quando me envolveu a claridade
Nasci de novo, dono de minha própria treva.

(Pablo Neruda)

Nenhum comentário: