II

Singra o navio. Sob a água clara
Vê-se o fundo do mar, de areia fina–
Impecável figura peregrina,
A distância sem fim que nos separa!

Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor-de-rosa,
Na fria transparência luminosa
Repousam, fundos, sob a água plana.

E a vista sonda, reconstrui, compara.
Tantos naufrágios, perdições, destroços!–
Ó fúlgida visão, linda mentira!

Róseas unhinhas que a maré partira
Dentinhos que o vaivém desengastara...
Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos...

Camilo Pessanha in Clepsydra

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